Depoimento - Investidor - Anônimo - Muitos passam por isso, ainda é tempo de parar!.

 Olá,

Os comentários aqui são aterradoras! Perdi esses dias 14.000+4000 que a BMF me cobrou de taxas. No dia anterior tinha ganhado 900,00 e fiquei animado. No dia seguinte perdi os 18.000. Perdi o chão. Estou me recuperando psicologicamente. No meu caso, estava com perda de 6.000 e a corretora me estopou, impedindo a recuperação, mas o prejuízo subiu para 14.000. Não entendi e ninguém dá explicação. Porcaria de corretagem zero! Vou continuar estudando sobre day trade e trabalhar com até 3 contratos e pedir para a corretora limitar nesse número. Quando a corretora me estou eu estava com 100 contratos tentando reverter a perda. Não se me ajudaram ou prejudicaram, já que o mercado podia reverter num trade longo e nesse dia a Ibovespa subiu quase dois pontos! O maior problema é que eu não estava usando o stop loss, zerava conforme a conveniência. A ironia do destino é que na primeira hora do trade eu cheguei em 470,00 positivo e não zerei a posição. É para sentar e chorar. Podia ter ficado com os 470,00 e não com os 18.000 negativos! Aprendi muitas lições nesse dia: Não ter ganância, respeitar o limite de perda do dia, usar stop loss curto, não ficar dobrando número de contratos para recuperar perdas, usar reversão o botão de reversão somente em situações extremas, fazer compra ou venda limitada para escolher os melhores preços de entrada e saída, trabalhar mais no simulador replay e testar novas estratégias. Ainda não sei usar o fibo, mas vou estudar isso.
Os comentários que li aqui foram de grande ajuda moral e técnica. Grato.

Prejuízo, depressão e morte no day trade: quando tudo sai de controle

 Analista de sistemas em uma empresa de gás, B., de 33 anos, sempre se interessou pelo mercado financeiro. Com um bom salário, mais de R$ 10 mil por mês, fazia aplicações em Tesouro Direto, mas queria mesmo investir em bolsa. Seduzido por comentários de amigos e propagandas de corretoras, buscou informações, fez cursos de day trade, nome dado às operações curtíssimo prazo de compra e venda de papéis em bolsa e, em novembro do ano passado, estreou como trader, juntando-se às cerca de 40 mil pessoas físicas que tentam viver da especulação no mercado.

Sacou R$ 60 mil das economias do Tesouro Direto, depositou o valor como garantia em uma corretora e passou a comprar e vender minicontratos futuros de dólar e de Índice Bovespa.

Perda pode superar o valor aplicado

O day trade nos mercados futuros é diferente do investimento tradicional em ações. Enquanto na compra de ações a perda é limitada ao valor investido caso a empresa quebre, no mercado futuro as perdas são ilimitadas. Se o investidor aposta que o dólar futuro vai subir e ele cai, ele tem de pagar a diferença para quem ganhou. Por isso, as corretoras exigem depósitos de garantias e estabelecem limites de perdas que, quando são atingidos, levam à liquidação compulsória da operação.
Mas o ganho também pode ser ilimitado, por isso a tensão é constante e a adrenalina é alta em meio às oscilações dos preços. O trader tem de ganhar não só de outros traders, mas também de investidores profissionais, como tesourarias de bancos, fundos de investimento e empresas, com seus grandes departamentos de análise e robôs.

Ganhos elevados e página no Instagram

Logo de cara, B. se deu bem e ganhou muito dinheiro. Em um único mês, chegou a lucrar R$ 100 mil com a especulação. O sucesso foi tanto que ele começou a ser procurado por amigos e conhecidos que queriam aprender também suas técnicas para ganhar dinheiro na bolsa. Montou então uma página no Instagram, na qual mostrava suas principais operações e os lucros que obtinha.
Em janeiro deste ano, porém, a sorte de B. mudou. Em um único mês, as perdas chegaram a R$ 70 mil, quase tudo que ele tinha guardado no Tesouro Direto. Mas ele não desanimou. Passou a se dedicar ainda mais ao mercado, tentando de alguma forma recuperar o que havia perdido. Operava todo dia, de casa ou do trabalho, o que acabou por atrapalhar seu desempenho e provocar uma advertência do chefe. Aos poucos, o day trade acabou se tornando um vício.
Começou então a faltar ao trabalho para se dedicar às operações em bolsa. Mas a sorte não mudava e ele estourou os limites na corretora em que operava, acumulando uma dívida. E foi trocando de corretora a cada nova perda, passando pelas principais do mercado, como Clear, Modal, Rico e Genial. O sistema de controle de inadimplência, de aviso ao mercado, que impediria que ele abrisse conta em uma corretora devendo em outra, não funcionou, e ele foi aumentando o prejuízo.

Limite de crédito do banco

B. recorreu então ao limite da conta do cheque especial no banco, um valor alto, para financiar as operações. Quando o limite acabou, avisou a mulher, com quem havia se casado havia um ano e meio, que ia vender o carro para pagar as dívidas. Mas acabou investindo o dinheiro, mais R$ 80 mil, no mercado. Perdeu tudo. Pediu então mais R$ 16 mil para esposa para pagar as dívidas. O dinheiro também sumiu no day trade.

Mudança de humor

Sujeito inteligente e extrovertido, B. parou de sair de casa, só queria operar na bolsa, buscando recuperar os prejuízos, conta a mulher, que passou a se preocupar e questionar o que estava acontecendo. Mas, diante da insistência dela, ele parou de contar o que se passava. Notando a mudança no marido, ela insistiu e o fez procurar um psicólogo, que detectou depressão e receitou remédios e terapia. B., porém, não quis fazer o tratamento. “Meu problema é dinheiro, se a psicóloga me der dinheiro, eu vou”, dizia.

Imagem de ganhador

Estranhamente, ele continuava contando aos amigos que estava ganhando dinheiro no mercado e postando trades de sucesso no Instagram. Para todos, ele continuava sendo um vencedor. O que ele não contava é que de cada R$ 10 mil que ganhava, perdia R$ 20 mil.
No dia 19 de julho, uma sexta-feira, B. não foi trabalhar. Ficou em casa para esperar o pedreiro que fazia uma reforma no apartamento. Às 10h30 da manhã, a mulher de B. recebeu uma ligação no trabalho. Era da polícia, afirmando que B. havia sofrido um acidente e que ela deveria ir à delegacia. Como ele andava de moto, a mulher imaginou um acidente de trânsito. Ao chegar, o delegado contou que B. havia se jogado do 14º andar do prédio. No apartamento, os policiais encontraram o computador de B. ligado, com a tela aberta na página da bolsa de valores. Apenas naquela manhã, ele havia perdido mais R$ 37 mil, conta a esposa.

Dívida de R$ 285 mil

Ela soube então que B. acumulava uma dívida de R$ 285 mil no banco, referente aos empréstimos para cobrir os prejuízos no mercado. Além disso, tinha dívidas de R$ 50 mil em uma corretora e R$ 30 mil em outra. Outra surpresa a esperava: ela descobriu que, sem crédito para operar, B. havia aberto uma conta em nome dela em uma corretora, usando seus documentos. E ela, que nunca operou, estava sendo cobrada por uma dívida de R$ 25 mil.
Para a mulher de B., a tragédia tem muito a ver com a situação psicológica de cada pessoa. “Mas devia haver algum sistema de segurança nas corretoras, que visse quando a pessoa está perdendo muito e tentasse impedir”, diz. Com a morte de B., ela passou a ser cobrada pela corretora para pagar a dívida feita pelo marido em seu nome. E também caiu em depressão.

97% das pessoas perderam dinheiro em DayTrader, veja a pesquisa publicada no CNNBrasil

 Mas resultados como o relatado pelo funcionário público parecem ser exceção, no famoso estilo “1 em um milhão”. É o que mostra um estudo coordenado pelo professor de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Fernando Chague, em parceria com seu colega de instituição Rodrigo De-Losso e o então professor da USP Bruno Giovannetti, e que gerou uma enorme discussão em fóruns e sites dedicados à modalidade de day trade. 


Na pesquisa, concluída em julho do ano passado, foi constatado que, entre 1.500 pessoas que operaram como day traders entre 2013 e 2015 apenas 45 não tiveram prejuízo. Em suma, 97% das pessoas perderam dinheiro. Das que lucraram, apenas 0.4%, ou 13 indivíduos, foram capazes de ganhar mais de R$ 300 por dia. Ou seja: bem distante da realidade do funcionário público Alex Serafim.  E a que mais lucrou, dentre todas, ganhou mil reais por dia, em valores da época. 

Para chegar nesse resultado, os  pesquisadores decidiram filtrar os dados fornecidos pela CVM, que demonstrava a operação de cerca de 20 mil pessoas, com foco apenas no que consideraram traders profissionais. O estudo, portanto, só acompanhou pessoas que atuaram na bolsa por 300 dias consecutivos, no mínimo, com recorte em contratos futuros de mini-índice, o ativo mais comum entre os day traders, no qual o investidor opera “alavancado.” 

De acordo com o professor Chague, mesmo no melhor dos cenários, o rendimento não recompensa o risco. “Se você considerar o estresse constante e o investimento que a pessoa tem que fazer em equipamentos de ponta, em contratar a plataforma e outras despesas, simplesmente não paga a conta. E assim, mesmo a pessoa que mais obteve resultados no Brasil inteiro, não está andando de Ferrari.”

Além disso, o especialista explica que a matemática não ajuda quem confia na sorte. “É uma questão de probabilidade. Quanto mais você joga, menos ganha. Se você joga por um ou dois dias, a probabilidade é quase a mesma de uma moeda no ar: 50 a 50. Conforme os dias passam, a porcentagem tende a cair.”

Robôs Sofisticados Versus Operações Humanas

Mas nada disso chega perto de se equiparar à maior ameaça que os day traders enfrentam: robôs. Não literalmente robôs, mas algoritmos programados para realizar operações em tempo recorde. É praticamente impossível para um humano competir com os chamados High Frequency Traders (HTF), que são essas ferramentas usadas por traders e grandes corporações. “Se tem alguém ganhando, tem alguém perdendo”, diz Chague.


Na tentativa de conter os estragos, day traders geralmente usam sistemas automatizados como o stop loss e o stop gain, que limitam os prejuízos de acordo com valores estabelecidos previamente, antes mesmo da abertura das negociações. Ainda assim, esses mecanismos não eliminam os riscos.

“Como grupo, as pessoas físicas perdem. Tem uma fração minúscula que ganha dinheiro. Mas quem ganha, em geral é esse outro lado da moeda. Além dos HFTs serem desenvolvidos por especialistas de bancos internacionais, eles colocam os operadores próximos do servidor da B3. É uma questão física de infraestrutura que garante velocidade. É simplesmente um ambiente inóspito para pessoas físicas.”

O conto do Vigário - Relato de Perda Financeira

 


E existe ainda quem procura lucrar com a esperança alheia. Além dos riscos próprios desse tipo de operação, o mercado de day trade ainda é alvo de golpistas. Entre os vários relatos de fraude encontrados em fóruns do tipo, a história do paranaense Erick Ferreira, de 26 anos, chama atenção.

O operador de produção vendeu a empresa própria de marcenaria para investir junto com um primo, que parecia estar enriquecendo rapidamente, e aprender com ele o ofício de day trader. Além de aplicar mal o dinheiro nas operações diárias, o primo também depositou a verba que ambos tinham disponíveis no chamado esquema de pirâmide financeira - prática ilegal no Brasil que consiste num modelo de negócio não sustentável e que depende do recrutamento de novos investidores para se financiar . 

Quando Ferreira percebeu que havia entrado em um esquema fraudulento, já era tarde demais. “Perdi todo o meu dinheiro e abri mão do meu sonho, da minha empresa. Teve gente que perdeu casa, perdeu mais de R$ 200 mil”, conta o empresário. 

Como alternativa, ele tentou operar sozinho como Day Trader, mas também não foi bem sucedido. “Operei opções binárias, que é uma vertente de Forex (mercado de câmbio). O risco é imenso, perdi R$ 10 mil da noite para o dia.”

O primo de Ferreira, assim como muitos que prometem dinheiro fácil, também oferecia cursos presenciais para quem quisesse aprender a fazer day trade. O custo da mensalidade das aulas, que eram lecionadas em Cuiabá, no Mato Grosso, passava dos R$ 10 mil. No YouTube e no Facebook, também não faltam influencers sem nenhuma certificação vendendo aulas do tipo. 

“Vários desses caras que vendem cursos na internet ganham muito dinheiro. A maioria não é igual a gente, que trabalha e que sofre para ter uma renda. Eles vendem um sonho. A pessoa acha que vai ganhar dinheiro sem ter que ralar, mas não é assim. Eu aprendi da pior maneira”, conta Ferreira.

Universitário Trader se matou após ver saldo negativo na conta em cerca R$ 3.9 milhões de reais.

 


Alex Kerns, Day trader de 20 anos e estudante na Universidade do Nebraska, nos EUA, se suicidou ao ver seu saldo negativo na corretora Robinhood, conforme reportou a CNN Business.

A família do estudante diz que ele cometeu suicídio após uma confusão devido a um aparente saldo negativo de US$730.000 em sua conta. 

Agora os familiares estão exigindo uma resposta do aplicativo de negociação Robinhood. 

Kerns acreditava ter perdido quase US$750 mil (R$4 milhões) em uma aposta frustrada no mercado de opções realizada por meio da Robinhood. 

O trágico episódio ilumina o lado sombrio do recente boom das operações de investimentos por pequenos investidores e nas ofertas das corretoras online.

A família de Kerns acredita que o estudante foi enganado pela interface do aplicativo, sugerindo que ele estava com o saldo negativo de US$730 mil.

Contudo, enquanto acreditava erroneamente ter sofrido perdas de US$730 mil, sua conta tinha um saldo positivo de US$16 mil, já que a plataforma não deixava claro o suficiente que o saldo era uma opção. 

Em um bilhete que deixou para família, Kerns afirmou que “não tinha ideia do que estava fazendo” e que jamais havia “pretendido aceitar um risco desse tamanho”. 

Segundo Bill Brewster, primo do estudante, “o garoto se jogou na frente de um trem por nada, porque uma empresa de tecnologia não consegue descobrir que não deve mostrar um saldo de caixa negativo de US$ 730.000 para um garoto de 20 anos”.

Brewster compartilhou em seu twitter dizendo que Kerns estava confuso e perturbado com sua conta Robinhood e diz que a corretora concedeu indevidamente grandes quantidades de influência ao Kerns para negociar. 

“Por que não existe uma janela pop-up para dizer que essa não é uma obrigação real? Por que é necessário mostrar um monte de millennials que você sabe que estão se inscrevendo em massa? Por que está tudo bem?”, questionou Brewster.
O parente do estudante culpou a plataforma por empurrar seu produto simultaneamente para os traders jovens, sem aplicar medidas de proteção para evitar esse tipo de confusão.

“Eles não tinham previsão suficiente para pensar que isso poderia acontecer é ofensivo para mim”, afirma Brewster.

Com o ocorrido, a empresa anunciou melhorias em sua plataforma e interface do usuário para resolver o problema de visualização das opções de negociações. 
A Robinhood disse que também faria melhorias em suas mensagens e e-mails no aplicativo que são enviados aos clientes sobre transações de opções, bem como alterações na página de histórico do aplicativo, para ajudar os usuários a “entender a mecânica” das opções.

Os cofundadores da Robinhood disseram que, embora “reconheçam que nada pode aliviar a dor que a família de Alex está sentindo agora”, a empresa está fazendo uma doação de US $ 250.000 à Fundação Americana para a Prevenção do Suicídio e instou as pessoas com problemas a procurar ajuda.


'Dói ver o dinheiro derreter': os jovens que foram da euforia ao prejuízo na Bolsa de Valores

 


Entre dezembro de 2018 e fevereiro de 2020, a Bolsa brasileira ganhou 1,1 milhão de novos investidores pessoa física e mais que dobrou de tamanho, somando 1,9 milhão de pessoas.

Em termos relativos, o grupo que mais cresceu dentro da Bolsa foi o de jovens. O total de investidores com idade entre 16 e 25 anos aumentou quase cinco vezes nesse período, de 37,7 mil para 179,9 mil.

Na faixa etária entre 26 e 35 anos, o salto foi de 226,9%, de 286 mil para 609,9 mil pessoas. A conjuntura da economia brasileira nos últimos anos estimulou esse movimento...


A queda nos juros, de um lado, diminuiu o retorno das modalidades de renda fixa, menos arriscadas. O ciclo de alta da Bolsa, por sua vez - o que o jargão do mercado financeiro chama de 'bull market' -, chamou atenção para as promessas de maior retorno da renda variável. Foi esse cenário que motivou a estudante de administração Mirela*, de 20 anos, a tirar tudo o que tinha na poupança e comprar ações. Ela, o irmão e o pai, dono de uma loja de roupa infantil em Arujá (SP), entraram na Bolsa ao mesmo tempo, em setembro. "O cenário estava muito bom e a gente sentia necessidade de guardar dinheiro para o futuro", diz ela.

Grande parte dos investidores mais jovens nunca viveu uma grande crise financeira. A premissa de que quanto maior retorno, maior o risco, era apenas teórica para muitos deles até a quarta-feira de cinzas, 26 de fevereiro, quando a Bolsa caiu 7%. "Dói ver o dinheiro derreter", diz Marcelo*, de 22 anos.



Estagiário em um banco, ele começou a investir em renda variável em 2019. Como a família "não tem a cultura de poupar", contava com a ajuda dos amigos e com o material que lia e pesquisava sobre o mercado financeiro para aplicar.

Apesar de se considerar um investidor de perfil conservador, quando ele viu a Bolsa acelerar em abril do ano passado resolveu colocar parte das economias em fundos de ações, imobiliários e ETFs (sigla para 'exchange-traded fund', fundos que acompanham índices - de ações ou de títulos, por exemplo).

Nas últimas semanas, quando o Ibovespa acumula queda de mais de 40%, ele tem evitado olhar o aplicativo da corretora. "Parei quando perdi o equivalente a um salário em um dia", conta.

Assim como a maior parte dos investidores com quem a BBC News Brasil conversou nos últimos dias - com idades entre 20 e 70 anos -, ele tem convicção de que o investimento em renda variável é de longo prazo e que em algum momento haverá uma retomada, ainda que ela leve muito tempo.

O problema, no caso do estudante, foi que uma questão relacionada à sua saúde o obrigou a resgatar parte do dinheiro, o que ele tem feito aos poucos, desde o início de março - materializando as perdas que a Bolsa registrou nessa crise.

Fernando*, de 24 anos, que se define como investidor de "perfil mais arrojado", tem cerca de 70% do patrimônio aplicado em renda variável. Chegou a vender o carro - que ele, assim como muitos jovens, enxerga mais como custo supérfluo do que como solução para o transporte - e decidiu alocar mais capital na Bolsa durante o ciclo de alta.

Nos últimos dias, ele também tem deixado o aplicativo da corretora de lado - "a dor é grande" - e estima que o prejuízo esteja na faixa dos 40%. Ele se diz confiante, entretanto, que em algum momento o mercado estabilize e eventualmente inicie uma recuperação, assim como aconteceu em todas as outras crises.

As perdas das últimas semanas, entretanto, não têm precedentes. Nesta quarta-feira, o principal índice da Bolsa brasileira, o Ibovespa, fechou em queda de 10,35%, chegando a 66 mil pontos, com o sexto 'circuit breaker' em um mês, entre os dias 9 e 18 de março.

Durante a crise de 2008, a Bolsa também acionou o mecanismo seis vezes, mas em um intervalo maior, entre 29 de setembro e 22 de outubro. O economista Marcos*, também de 24 anos, diz que, apesar da idade, tem sido aquele a quem os familiares que entraram na Bolsa durante o "ciclo de otimismo" têm recorrido para tentar se tranquilizar enquanto os índices derretem.

"Eles estão confusos, porque tem muita gente dizendo que agora é hora de comprar, porque está tudo muito barato. Eu digo pra terem cautela, porque os preços podem cair mais.".

Nas últimas semanas, o jovem, que trabalha em um banco, perdeu o equivalente a R$ 20 mil com suas aplicações em renda variável, que somavam, por sua vez, 65% de tudo o que havia economizado...

Ele admite que tem estado "meio aflito" diante das notícias - da disseminação da doença e da crescente possibilidade de recessão global -, mas não mexeu no dinheiro porque o considera um investimento de longo prazo, que vai se recompor quando a economia voltar aos trilhos, ainda que esse momento demore mais a chegar do que se havia imaginado no início do surto.

Essa é também a avaliação de um investidor de 70 anos com quem a reportagem conversou e que começou a colocar dinheiro na Bolsa em 1967 e que passou por "todas as crises que você possa imaginar".

Para ele, que calcula ter perdido "algo entre 35% e 40%" desde o início da crise, esse ciclo de queda vai eventualmente ser superado, assim como os outros, mas "aquele que for apavorado, inexperiente ou que estiver precisando do dinheiro (aplicado) vai sofrer".

"Se o investidor tiver calma, em algum momento vai começar a voltar", aconselha a professora Andrea Minardi, do Centro de Finanças do Insper.

Camilla Veras Mota
Da BBC News Brasil, em São Paulo
19/03/2020 07h11



Day Trade: Do Investimento ao Vício

Entenda como o compromisso inicial com o Day Trade pode se transformar rapidamente num vicio financeiro perigoso e como evitar ou lidar com ...